Fui questionado em uma live sobre as diferenças entre chefe e líder. Em respeito ao amigo, Paulo Sergio, que fez a pergunta, e a relevância do tema Liderança nas empresas resolvi fazer essas linhas questionando a modernidade que troca os jargões, não necessariamente mudando as práticas. 

Como empresário de franquias recebo muitas propostas que perdem texto tentando convencer que determinado valor não seria custo e sim investimento. Leio com objeções este tipo de proposta, porque definitivamente o desembolso acontecerá, o negócio precisa ter caixa, saúde financeira para absorver o valor proposto. Seguindo esse raciocínio, que discordo, tudo é investimento – CFTV (para não ser fraudado), Contabilidade (para não ser multado pelo governo), Letreiro (para chamar mais clientes), material de limpeza (para segurança biológica sanitária), tudo seria investimento. Ops, se tudo é investimento devemos reavaliar nosso conceito. 

Me sinto perdendo tempo, com essa troca de palavras – de custo para investimento – ao invés de ir direto ao ponto da solução do produto/serviço e qual o resultado me trará – grana no final do mês. Resultado é o que interessa no final das contas, no início também. 

Outra expressão do momento é Soft Skills¹, que gostei tanto do nome que batizei meu cachorrinho de “Skill”. Meu filho, Artur, não curtiu e acha que não fez sentido um cachorro com nome de habilidades. Ele não sabe que estou fazendo um investimento na inteligência emocional do animal. Ironias, a parte, inteligência emocional é sempre bem-vinda as empresas. Se estiverem desenvolvendo no dia a dia como se comunica teremos ambientes muito mais saudáveis. 

Os professores, treinadores, formadores, instrutores e mentores foram todos designados coach, que substituiu os consultores. Existiu a fase que todos eram consultores. Nosso barbeiro tinha virado consultor de beleza masculina, passou para coach de estilo masculino. Graças a valorização do retro foram libertados podendo ser novamente nossos barbeiros, aquele raiz, em um ambiente de barbearia onde somos atendidos por barbeiros. 

Mais importante que as palavras da moda – colaboradores, lideres, soft skills e hard skills – são as práticas verdadeiramente compromissadas com a qualidade das relações e o cuidado genuíno com as pessoas. Bater metas, de forma ética, com desenvolvimento de novos líderes é o resumo dos resumos do que seria uma liderança. Tínhamos chefes muito bacanas, nos anos 80, que atendiam a essa missão com os seus funcionários.

“Liderar é obter resultados (bater metas) com as pessoas e da maneira certa (ética). Combinando as necessidades do negócio com as das pessoas e apresentando práticas que orientam o desenvolvimento sistêmico da liderança, a organização forma o líder para assumir com segurança as suas responsabilidades”²

Sou a favor de atualizarmos nossas expressões, atualizando nossas práticas. Sou adepto do entendimento que estamos todos na caminhada, no sentido de precisarmos hoje sermos melhores que ontem. Precisamos de ajuda – mentores, treinadores, orientadores ou coach – para enfrentarmos a complexidade dos dias atuais. O problema não é com os nomes, mas com as apropriações indevidas. 

A questão é para o que falamos refletir no que praticamos. Quanto mais próximos esses pontos estiverem – discurso e prática – mais estaremos diante de uma liderança que atende aos anseios modernos. A modernidade clama por todos juntos, pela coletividade respeitosa por cada papel/função desempenhada. 

Procuro revisitar minhas ofertas internas me questionando se estou colaborando com o meu colaborador. Incluo minha equipe no “jogo” para juntos resolvermos o cotidiano para o sentido de equipe se fortalecer. Sou o desenvolvedor de talentos que espero que minha gerencia seja, para encontrarmos a coerência. Não gosto que me chamem de dono, patrão ou chefe, apenas aceito na crença que minhas práticas alterem esse vocabulário. 

O mercado jogou para os chefes todas as dificuldades que o gestor tem para lidar com o seu time. Normalmente nos apresentam quadros que abaixo do chefe tem o que não se deve ser, e na coluna do líder tem as virtudes desejadas. Sou a favor no aspecto pedagógico, se isso for facilitar o aprendizado. Mas que fique claro que é apenas uma separação didática para marcar a exigência de virtudes para o cuidado com gente.

“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana³”

Conheci, em 2000, o comandante do batalhão de polícia rodoviária do estado do Rio de Janeiro, Cel Hudson de Aguiar Miranda, que depois seria comandante geral da instituição. O sargento responsável pelo rancho (comida do quartel) o recebia com continência e um “seja bem vindo, meu chefe”. Seguiam todos os protocolos militares, com um aperto de mão do comandante Hudson no sargento, olho no olho, perguntando ao subordinado como ele e a família estavam. O chefe aguardava a resposta e ouvia atentamente seu subordinado. Regras militares rígidas, hierarquia e disciplina, com comportamento de liderança moderna a 20 anos atrás. 

Bons exemplos estão por toda a parte, até mesmo em batalhões militares com seus protocolos de respeito à hierarquia. Olhares atentos nos servirão para localizarmos os caras que verdadeiramente valorizam o coletivo que está com ele. Aquele que vai na frente em dias de insegurança do time e dá a vez quando é hora do protagonismo de um integrante. 

Eu ando a caça de boas práticas e conceitos que simplifiquem a explicação de como cuidar de gente na empresa da gente. Encontrei no Super Quarteto – Dois no Varejo, Rotiery Martins e Michel Jasper – lives quinzenais que contamos experiências e propostas de solução, sem formúla mágica e de forma descontraída. A partir de novembro rolou no Linkedin do Jasper6.

Encontro muita gente despreparada, imatura e vaidosa responsável por grupo de funcionários, estão na gestão. Cada funcionário com a sua história de vida (experiência e inexperiência) na labuta pelo sustento de si, de outro ou de uma família inteira. São impactados e impactam os próximos com este “comando” desqualificado. Uma pena, penso eu, quando observo equipes largadas e desproporcionalmente cobradas por estes líderes. 

“…a formação se tornou uma componente cada vez mais valorizada não somente do acesso aos empregos mas também das trajetórias de emprego. Se o emprego é cada vez mais fundamental para os processos indentitários, a formação está ligada a ele de maneira cada vez mais estreita5

A esperança nasce de jovens muito mais conscientes, com escolhas fortes: vegetarianos e ecologicamente militantes. Nada caretas e incluidores da diversidade. Essa juventude me chama a atenção e chegam pelas startups solucionando a vida em sociedade. Como cliente de um banco digital, usuário de aplicativo de transporte já sinto o impacto das soluções digitais e parceiro de um aplicativo que cuida do desperdício de alimentos4. A tendência é de crescimento. Salve a juventude brasileira.

  1. “O que são Soft Skills – as soft skills podem ser definidas como as habilidades comportamentais utilizadas nos relacionamentos interpessoais, que podem afetar positivamente os resultados. Também pode-se afirmar que as soft skills estão intimamente ligadas com a inteligência emocional”, Soft Skills e Hard Skills: o que são e exemplos – Diferença (diferenca.com)
  2. Liderança: fator que define o sucesso da organização, por Neuza Chaves, senior advisor da FALCONI 
  3. Carl Gustav Jung foi um psiquiatra e psicoterapeuta suíço que fundou a psicologia analítica. Jung propôs e desenvolveu os conceitos de personalidade extrovertida e introvertida, arquétipo e inconsciente coletivo. Seu trabalho tem sido influente na psiquiatria, psicologia, ciência da religião, literatura e áreas afins. Wikipédia 
  4. Um bom app: https://umbomapp.com/
  5. Livro A socialização construção das identidades sociais e profissionais, Claude Dubar

Mauricio SalkiniAdministrador, Pedagogo Social e Gestor no varejo. Membro do Grupo de Pesquisa em Pedagogia Social – PIPAS/UFF, empresário desde de 1990, com experiência no Bobs, Kopenhagen e Rei do Mate (nesta franquia também conselheiro). Vencedor do prêmio Ser Humano ABRH 2019. Conselheiro do Projeto Grael. Iniciante na arte dos versos e das rimas. Pai do Artur e flamenguista. Artigos na Revista da Pedagogia Social UFF, no portal Central das Franquias e na Revista N. Conteúdo no Instagram como @mauriciosalkini e Podcast “Trilogia saudável” (Spotify ou Anchor)

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